domingo, 31 de maio de 2015

Obsessão

Entre a Terra e o Céu - Capítulo 3
"Penetramos o mais espaçoso aposento da casa, onde uma senhora de aspecto juvenil repousava abatida e insone.
Moça de vinte e cinco anos, aproximadamente, mostrava no semblante torturado harmoniosa beleza. O rosto delicado parecia haver saído de uma tela preciosa, todavia, com a suavidade das linhas fisionômicas contrastavam a inquietação e o pavor dos olhos escuros e o abandono dos cabelos em desalinho.
Ao lado dela, descansava outra mulher, sem o veículo físico.
Recostada num travesseiro de grandes dimensões, dava a ideia de proteger a moça indiscutivelmente enferma, contudo, a vaguidão do olhar e o halo obscuro de que se cercava, não nos deixavam dúvida quanto à sua posição de desequilíbrio interior. Conservava a destra sobre a medula alongada da senhora vencida e doente, como se quisesse controlar-lhe as impressões nervosas, e fios cinzentos que lhe fluíam da cabeça, à maneira de tentáculos dum polvo, envolviam-lhe o centro coronário, obliterando-lhe os núcleos de força.
Indiferentes ambas à nossa presença, foi possível observá-las atentamente, identificando-se-lhes a posição de verdugo e de vítima.
Arrancando-nos da indagação silenciosa em que nos demorávamos, Clarêncio explicou:
– A jovem senhora é Zulmira, a segunda orientadora deste lar, e a irmã desencarnada que presentemente lhe vampiriza o corpo é Odila, a primeira esposa de Amaro e mãezinha de Evelina, dolorosamente transfigurada pelo ciúme a que se recolheu. Empenhada em combater aquela que considera inimiga, imanta-se a ela,através do veículo perispirítico, na região cerebral, dominando a complicada rede de estímulos nervosos e influenciando os centros metabólicos, com o que lhe altera profundamente a paisagem orgânica."

sábado, 30 de maio de 2015

Oração Refratada

Entre a Terra e o Céu - Capítulo 2

Clarêncio esclarece a André Luiz e Hilário o significado de uma oração refratada.
"– Mas, que vem a ser uma oração refratada? – indagou o meu colega, mordido de curiosidade.
Hilário fora igualmente médico no mundo e, tanto quanto eu, permanecia em tarefas ligadas à responsabilidade de Clarêncio, adquirindo conhecimentos especializados.
– A prece refratada é aquela cujo impulso luminoso teve a sua direção desviada, passando a outro objetivo."
"... – Compreendem agora o que seja uma oração refratada? Evelina recorre ao espírito materno que não se encontra em condições de escutá-la, mas a solicitação não se perde... Desferida em elevada freqüência, a súplica de nossa irmãzinha vara os círculos inferiores e procura o apoio que lhe não faltará."

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Trabalhadores Espirituais

Entre a Terra e o Céu - Capítulo 34

Ao prestar assistência a Mário (um dos personagens deste livro), Clarêncio, André Luiz e Hilário encontram com uma freira que também desencarnada, presta serviços de socorro espiritual no hospital em que Mário trabalha.
"– Nossa irmã pertence à organização espiritual de servidores católicos, dedicados à caridade evangélica. Temos diversas instituições dessa natureza, em cujos quadros de serviço inúmeras entidades se preparam gradualmente para o conhecimento superior.
– Sob a direção de autoridades ainda ligadas à Igreja Católica? – perguntou Hilário, admirado.
– Como não? Todas as escolas religiosas dispõem de grandes valores na vida espiritual. Como acontece à personalidade humana, as crenças possuem uma região clara e luminosa e uma outra ainda obscura. Em nossa alma, a zona lúcida vive alimentada pelos nossos melhores sentimentos, enquanto que, no mundo sombrio de nossas experiências inferiores, habitam as inclinações e os impulsos que ainda nos encadeiam à animalidade. Nas religiões, o campo da sublimação está povoado pelos espíritos generosos e liberais, conscientes de nossa suprema destinação para o bem, ao passo que, nas linhas escuras da ignorância, ainda enxameiam as almas pesadas de ódio e egoísmo.
E, sorrindo, o Ministro acentuou:
– Achamo-nos em evolução e cada um de nós respira no degrau em que se colocou.
– Ela, porém, terá penetrado a verdade com que fomos surpreendidos, depois da morte? – perguntei, intrigado.
– Cada Inteligência – respondeu o orientador, enigmático – só recebe da verdade a porção que pode reter."

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Desencarnação e Reencarnação 2

Entre a Terra e o Céu - Capítulo 29

Continuação do post anterior em que o Ministro Clarêncio dá explicações sobre a desencarnação e a reencarnação.
"Inspirado talvez na mesma faixa de reflexões que me preocupavam o espírito, Hilário inquiriu:
– Os princípios que analisamos funcionam em igualdade de circunstâncias para os animais?
– Como não? – replicou o nosso orientador, paciente – todos nos achamos na grande marcha de crescimento para a imortalidade. Nas linhas infinitas do instinto, da inteligência, da razão e da sublimação, permanecemos todos vinculados à lei do renascimento como inalienável condição de progresso. Atacamos experiências múltiplas e recapitulamo-las, tantas vezes quantas se fizerem necessárias, na grande jornada para Deus. Crisálidas de inteligência nos setores mais obscuros da Natureza evolvem para o plano das inteligências fragmentárias, onde se localizam os animais de ordem superior que, por sua vez, se dirigem para o reino da consciência humana, tanto quanto os homens, pouco a pouco, se encaminham para as gloriosas esferas dos anjos."

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Desencarnação e Reencarnação

Entre a Terra e o Céu - Capítulo 29

O Ministro Clarêncio dá explicações sobre a desencarnação e a reencarnação.
"– Também o corpo físico parece dormir na desencarnação, quando, na realidade, começa a restituir as unidades químicas que o compõem à Natureza que lhos emprestou a titulo precário, apenas com a diferença de que a alma desencarnada, ainda mesmo quando em deploráveis condições de sofrimento e inferioridade, avança para a libertação relativa, ao passo que, em nos reencarnando, sofremos o processo de volta às teias da matéria densa, não obstante orientados por nobres objetivos de evolução. É por isso que, conduzidos à reconstituição orgânica, revivemos, nos primeiros tempos da organização fetal, embora apressadamente, todo o nosso pretérito biológico. Cada ser que retoma o envoltório físico revive, automaticamente, na reconstrução da forma em que se exprimirá na Terra, todo o passado que lhe diz respeito, estacionando na mais alta configuração típica que já conquistou, para o trabalho que lhe compete, de acordo com o degrau evolutivo em que se encontra."

terça-feira, 26 de maio de 2015

Plano Reencarnatório

Entre a Terra e o Céu - Capítulo 28

Clarêncio esclarece sobre o plano reencarnatório de Júlio, que havia desencarnado ainda criança em sua vida anterior. Júlio encontrava-se no plano espiritual, sendo preparado para reencarnar e iria desencarnar durante a infância novamente.
"Preocupados com o caso de Júlio, no dia imediato indagamos do orientador sobre a planificação do serviço reencarnatório, ao que Clarêncio informou, conciso:
– O problema é doloroso, mas é simples. Trata-se tão somente de ligeira prova necessária. Júlio sofrerá o aflitivo desejo de permanecer na Terra, com o empréstimo do corpo físico a prazo longo; entretanto, suicida que foi, com duas tentativas de autoaniquilamento, por duas vezes deverá experimentar a frustração para valorizar com mais segurança a bênção da vida terrestre.
Depois de estagiar por muitos anos nas regiões inferiores de nosso plano, confiando-se inutilmente à revolta e à inércia, já passou pelo afogamento e agora enfrentará a intoxicação. Tudo isso é lastimável, no entanto...
E mostrando significativa expressão fisionômica, ajuntou:
– Quem aprenderá sem a cooperação do sofrimento?
– Penso, contudo, no martírio dos pais... – considerou Hilário, hesitante.
– Meus amigos – falou o Ministro, generoso –, a justiça é inalienável. Não podemos iludi-la. Com o desequilíbrio emocional de Amaro e Zulmira, no pretérito, Júlio arrojou-se a escuro despenhadeiro de compromissos morais e, na atualidade, reabilitar-se-á com a cooperação deles. Ontem, o casal, por esquecê-lo, inclinou-o à queda; hoje, por amá-lo, garantir-lhe-á o soerguimento."

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Programação da Reencarnação

Entre a Terra e o Céu - Capítulo 2

Clarêncio fala sobre os programas de serviço a serem cumpridos durante a reencarnação.
"– Ainda agora, falávamos de responsabilidade. Eis um fato que nos ilustra os conceitos.
E, exibindo o documento que trazia nas mãos, explicou:
– Temos aqui uma oração comovedora que superou as linhas vibratórias comuns do plano de matéria mais densa. Parte de uma devotada servidora que se ausentou de nossa cidade espiritual, há precisamente quinze anos terrestres, para determinadas tarefas na reencarnação. Não seguiu, porém, desassistida. Permanece sob nossa orientação. O nascimento e o renascimento, no mundo, sob o ponto de vista físico, jazem confiados a leis biológicas de cuja execução se incumbem Inteligências especializadas, contudo, em suas características morais, subordinam-se a certos ascendentes do espírito.
O Ministro deteve-se alguns instantes, analisando a pequenina e complicada ficha, todavia, como se provocasse a continuidade da lição que recebíamos, meu companheiro considerou:
– Mas, indiscutivelmente, na reencarnação há um programa de serviço a realizar...
– Sim, sem dúvida – aclarou o instrutor –, quanto mais vastos os recursos espirituais de quem retorna à carne, mais complexo é o mapa de trabalho a ser obedecido. Quase todos temos do pretérito expressivo montante de débito a resgatar e todos somos desafiados pelas aquisições a fazer. Nisso está o programa, significando em si uma espécie de fatalidade relativa no ciclo de experiências que nos cabe atender; entretanto, a conduta é sempre nossa e, dentro dela, podemos gerar circunstâncias em nosso benefício ou em nosso desfavor. Reconhecemos, assim, que o livre arbítrio, também relativo, é uma realidade inconteste em todas as esferas de evolução da consciência. Não podemos olvidar, contudo, que, em todos os planos, marchamos em verdadeira interdependência. Nas linhas da experiência física, até certo ponto, os filhos precisam dos pais, os doentes necessitam dos médicos e os moços não prescindem do aviso dos mais velhos. Aqui, a habilitação depende dos educadores, o amparo eficiente exige quem saiba distribuí-lo e a transferência de domicílio para trabalho enobrecedor, quando se trata de Espíritos sem méritos absolutos, reclama o endosso de autoridades competentes."

domingo, 24 de maio de 2015

O Mal

Entre a Terra e o Céu - Capítulo 1

O Ministro Clarêncio fala sobre o mal.
"– Estejamos convictos, porém, de que o mal é sempre um círculo fechado sobre si mesmo, guardando temporariamente aqueles que o criaram, qual se fora um quisto de curta ou longa duração, a dissolver-se, por fim, no bem infinito, à medida que se reeducam as Inteligências que a ele se aglutinam e afeiçoam. O Senhor tolera a desarmonia, a fim de que por intermédio dela mesma se efetue o reajustamento moral dos espíritos que a sustentam, de vez que o mal reage sobre aqueles que o praticam, auxiliando-os a compreender a excelência e a imortalidade do bem, que é o inamovível fundamento da Lei. Todos somos senhores de nossas criações e, ao mesmo tempo, delas escravos infortunados ou felizes tutelados. Pedimos e obtemos, mas pagaremos por todas as aquisições. A responsabilidade é principio divino a que ninguém poderá fugir."

sábado, 23 de maio de 2015

Prece 3

Entre a Terra e o Céu - Cap. 1

Continuação dos dois posts anteriores em que o Ministro Clarêncio esclarece sobre a sublimidade da prece, em palestra realizada no Templo do Socorro*.
"Quebrando o silêncio que se fizera natural para a nossa reflexão, o irmão Hilário perguntou:
– Contudo, como interpretar o ensinamento, quando estivermos à frente de propósitos malignos? Um homem que deseja cometer um crime estará também no serviço da prece?
– Abstenhamo-nos de empregar a palavra “prece”, quando se trate do desequilíbrio – aduziu Clarêncio, bondoso –, digamos “invocação”.
E acrescentou:
– Quando alguém nutre o desejo de perpetrar uma falta está invocando forças inferiores e mobilizando recursos pelos quais se responsabilizará. Através dos impulsos infelizes de nossa alma, muitas vezes descemos às desvairadas vibrações da cólera ou do vício e, de semelhante posição, é fácil cairmos no enredado poço do crime, em cujas furnas nos ligamos, de imediato, a certas mentes estagnadas na ignorância, que se fazem instrumentos de nossas baixas idealizações ou das quais nos tornamos deploráveis joguetes na sombra. Todas as nossas aspirações movimentam energias para o bem ou para o mal. Por isso mesmo, a direção delas permanece afeta à nossa responsabilidade. Analisemos com cuidado a nossa escolha, em qualquer problema ou situação do caminho que nos é dado percorrer, porquanto o nosso pensamento voará, diante de nós, atraindo e formando a realização que nos propomos atingir e, em qualquer setor da existência, a vida responde, segundo a nossa solicitação. Seremos devedores dela pelo que houvermos recebido."
 *  Instituição da cidade espiritual em que se encontra o Autor (Nota do Autor espiritual).

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Prece 2

Entre a Terra e o Céu - Cap. 1

Continuação do post anterior em que o Ministro Clarêncio esclarece sobre a sublimidade da prece, em palestra realizada no Templo do Socorro*.
"– Cada prece, tanto quanto cada emissão de força, se caracteriza por determinado potencial de freqüência e todos estamos cercados por Inteligências capazes de sintonizar com o nosso apelo, à maneira de estações receptoras. Sabemos que a Humanidade Universal, nos infinitos mundos da grandeza cósmica, está constituída pelas criaturas de Deus, em diversas idades e posições... No Reino Espiritual, compete-nos considerar igualmente os princípios da herança. Cada consciência, à medida que se aperfeiçoa e se santifica, aprimora em si qualidades do Pai Celestial, harmonizando-se, gradativamente, com a Lei. Quanto mais elevada a percentagem dessas qualidades num espírito, mais amplo é o seu poder de cooperar na execução do Plano Divino, respondendo às solicitações da vida, em nome de Deus, que nos criou a todos para o Infinito Amor e para a Infinita Sabedoria..."
*  Instituição da cidade espiritual em que se encontra o Autor (Nota do Autor espiritual).

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Prece

Entre a Terra e o Céu - Cap. 1

O Ministro Clarêncio esclarece sobre a sublimidade da prece, em palestra realizada no Templo do Socorro*.
"– Todo desejo – dizia, convincente – é manancial de poder. A planta que se eleva para o alto, convertendo a própria energia em fruto que alimenta a vida, é um ser que ansiou por multiplicar-se...
– Mas todo petitório reclama quem ouça – interferiu um dos companheiros. – Quem teria respondido aos rogos, sem palavras, da planta?
O venerando orientador respondeu, tranqüilo:
– A Lei, como representação de nosso Pai Celestial, manifesta-se a tudo e a todos, através dos múltiplos agentes que a servem. No caso a que nos reportamos, o Sol sustentou o vegetal, conferindo-lhe recursos para alcançar os objetivos que se propunha atingir.
E, imprimindo significativa entonação à voz, continuou:
– Em nome de Deus, as criaturas, tanto quanto possível, atendem às criaturas. Assim como possuímos em eletricidade os transformadores de energia para o adequado aproveitamento da força, temos igualmente, em todos os domínios do Universo, os transformadores da bênção, do socorro, do esclarecimento... As correntes centrais da vida partem do Todo-Poderoso e descem a flux, transubstanciadas de maneira infinita. Da luz suprema à treva total, e vice-versa, temos o fluxo e o refluxo do sopro do Criador, através de seres incontáveis, escalonados em todos os tons do instinto, da inteligência, da razão, da humanidade e da angelitude, que modificam a energia divina, de acordo com a graduação do trabalho evolutivo, no meio em que se encontram. Cada degrau da vida está superlotado por milhões de criaturas... O caminho da ascensão espiritual é bem aquela escada milagrosa da visão de Jacob, que passava pela Terra e se perdia nos céus... A prece, qualquer que ela seja, é ação provocando a reação que lhe corresponde. Conforme a sua natureza, paira na região em que foi emitida ou eleva-se mais, ou menos, recebendo a resposta imediata ou remota, segundo as finalidades a que se destina. Desejos banais encontram realização próxima na própria esfera em que surgem. Impulsos de expressão algo mais nobre são amparados pelas almas que se enobreceram. Ideais e petições de significação profunda na imortalidade remontam às alturas..."
*  Instituição da cidade espiritual em que se encontra o Autor. (Nota do Autor espiritual).

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Desdobramento da Alma 2

Entre a Terra e o Céu - Cap. 8

Continuação do post anterior em que Clarêncio, André Luiz e Hilário conduzem Antonina e outra personagem (que não foi citado o nome) à colônia Lar da Benção, em desdobramento durante o sono físico. Elas foram visitar os filhos que desencarnaram ainda crianças.
"Antonina, porém, como se estivesse irradiando insopitável curiosidade, mesclada de alegria, voltou a exclamar:
– Ah! se morrêssemos hoje!... se a carne não nos pesasse mais!...
O Ministro, contudo, imprimindo mais grave entonação à voz, mas sem perder a brandura que lhe era peculiar, considerou, de imediato:
– Se hoje abandonassem o veículo de matéria densa, quem diz que seriam felizes? Quem de nós obterá a suprema ventura, sem a perfeita sublimação pessoal?
E, fitando Antonina com bondade misturada de compaixão, observou:
– Agora, vocês visitarão filhinhos abençoados que a morte lhes arrebatou temporariamente ao convívio terrestre. Vocês se sentem como que num palácio dourado, em pleno paraíso de amor, mas, e os filhinhos que ficam? Haverá Céu sem a presença daqueles que amamos? Teremos paz sem alegria para os que moram em nosso coração? Imaginemos que as algemas do cárcere físico se partissem agora... O atormentado lar humano cresceria de vulto na saudade que as tomaria de assalto... A lembrança dos filhos aprisionados no Planeta acorrentá-las-ia ao mundo carnal, à maneira de forte raiz retendo a árvore no solo escuro. Os rogos e os gemidos, as lutas e as provas dos rebentos menos felizes da existência lhes falariam ao espírito mais imperiosamente que os cânticos de bem-aventurança dos filhos afortunados e, naturalmente, desceriam do Céu para a Terra, preferindo a posição de angustiadas servas invisíveis, trocando a resplendente glória da liberdade pelos dolorosos padecimentos da prisão, de vez que a ventura maior de quem ama reside em dar de si mesmo, a favor das criaturas amadas...
As duas mulheres ouviram as sensatas ponderações sem dizer palavra.
Finda a pausa ligeira, o instrutor continuou:
– Somos devedores uns dos outros!... Laços mil nos jungem os corações. Por enquanto, não há paraíso perfeito para quem volta da Terra, tanto quanto não existe purgatório integral para quem regressa ao humano sorvedouro! O amor é a força divina, alimentando-nos em todos os setores da vida e o nosso melhor patrimônio é o trabalho com que nos compete ajudar-nos mutuamente."

terça-feira, 19 de maio de 2015

Desdobramento da Alma

Entre a Terra e o Céu - Cap. 8

Clarêncio, André Luiz e Hilário conduzem Antonina e outra personagem (que não foi citado o nome) à colônia Lar da Benção, em desdobramento durante o sono físico. Elas foram visitar os filhos que desencarnaram ainda crianças.
"Atingindo formosa paisagem, banhada de suave luz, em que um parque imponente e acolhedor se distendia, fixei o semblante de nossas companheiras, que se mostravam extáticas e felizes.
Dona Antonina, amparando-se em Clarêncio qual se fora uma filha apoiada nos braços paternos, inquiriu, maravilhada:
– Porque não transformar esta excursão em transferência definitiva? Pesa o corpo, à maneira de insuportável cruz de carne, quando conseguimos sentir a Terra, de longe...
– É verdade – concordou a outra irmã, que se sustentava em nós –, porque não nos é dado permanecer, olvidando os pesares e os dissabores do mundo?
– Compreendemos – ajuntou o Ministro, generoso –, compreendemos quanta inquietação punge o espírito reencarnado, mormente quando desperto para a beleza da vida superior; entretanto, é indispensável saibamos louvar a oportunidade de servir, sem jamais desmerecê-la. Achamo-nos ainda distantes da redenção total e todos nós, com alternativas mais ou menos longas, devemos abraçar a luta na carne, de modo a solver com dignidade nossos velhos compromissos. Somos viajores nos milênios incessantes. Ontem fomos auxiliados, hoje nos cabe auxiliar."

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Desencarnação na Infância 4

Entre a Terra e o Céu - Cap. 10

Clarêncio e Blandina explicam as causas de graves enfermidades que acometem as crianças.
"– Usando semelhantes apontamentos, podemos entender com mais segurança, os processos dolorosos das enfermidades congênitas e das moléstias insidiosas que assaltam a meninice no mundo. Sempre fui possuído de aflitivo assombro, à frente do mongolismo e da epilepsia, da encefalite letárgica e da meningite, da lepra e do câncer, na tenra organização infantil.
– E que dizer dos desastres irremediáveis – considerou Hilário, com emoção –, dos desastres que arrebatam adoráveis flores do lar, deixando inconsoláveis pais e mães? Por vezes numerosas, procurei resposta às terríveis inquirições que nos atormentam, perante corpinhos dilacerados, nos hospitais de sangue, sem conseguir ausentar-me do escuro labirinto.
– Sim – esclareceu a enfermeira, bondosa –, as reparações nos martirizam na carne, mas, sem elas, não atingiríamos o próprio reajustamento.
– Cada qual de nós renasce na Terra – apreciou o Ministro – a exprimir na matéria densa o patrimônio de bens ou males que incorporamos aos tecidos sutis da alma. A patogenia, na essência, envolve estudos que remontam ao corpo espiritual, para que não seja um quadro de conclusões falhas ou de todo irreais. Voltando à Terra, atraímos os acontecimentos agradáveis ou desagradáveis, segundo os títulos de trabalho que já conquistamos ou conforme as nossas necessidades de redenção.
Bem humorado, acentuou:
– A carne, de certo modo, em muitas circunstâncias não é apenas um vaso divino para o crescimento de nossas potencialidades, mas também uma espécie de carvão milagroso, absorvendo-nos os tóxicos e resíduos de sombra que trazemos no corpo substancial."

domingo, 17 de maio de 2015

Desencarnação na Infância 3

Entre a Terra e o Céu - Cap. 10

Continuação do post anterior, em que Blandina e Clarêncio esclarecem sobre a importância dos cuidados maternos na evolução dos espíritos que lhe são confiados como filhos.
"– Mas a Lei não traçará princípios inamovíveis? Pretenderá a irmã dizer que uma criança pode desencarnar, fora do dia indicado para a sua libertação?
– Sim, sem dúvida – atalhou o Ministro, que nos escutava –, há um programa estruturado na Espiritualidade para as nossas tarefas humanas; entretanto, pertence-nos a condução dos próprios impulsos dentro delas. Em regra geral, multidões de criaturas cedo se afastam do veículo carnal, atendendo a serviços de socorro e sublimação, mas, em numerosas circunstâncias a negligência e a irreflexão dos pais são responsáveis pelo fracasso dos filhinhos.
– Aqui – explicou Blandina, delicada – recebemos muitas solicitações de assistência, a benefício de pequeninos ameaçados de frustração. Temos irmãs que por nutrirem pensamentos infelizes envenenam o leite materno, comprometendo a estabilidade orgânica dos recém-natos. Vemos casais que, através de rixas incessantes, projetam raios magnéticos de natureza mortal sobre os filhinhos tenros, arruinando-lhes a saúde, e encontramos mulheres invigilantes que confiam o lar a pessoas ainda animalizadas, que, à cata de satisfações doentias, não se envergonham de ministrar hipnóticos a entezinhos frágeis, que reclamam desvelado carinho... Em algumas ocasiões, conseguimos restabelecer a harmonia, com a recuperação desejável; no entanto, muitas vezes somos constrangidas a assistir ao malogro de nossos melhores propósitos."

sábado, 16 de maio de 2015

Desencarnação na Infância 2

Entre a Terra e o Céu - Cap. 10

Blandina, espírito que trabalha no Lar da Benção - colônia do plano espiritual que acolhe crianças desencarnadas - esclarece sobre a importância dos cuidados maternos na evolução dos espíritos que lhe são confiados como filhos.
"– Imaginemos que a terra se recusasse a auxiliar as sementes que esperam reviver. O solo expulsá-las-ia e, em vez dos germens libertados para a vitória da plantação, teríamos tão somente pevides* secas, em aflitiva inquietude, desorientando a lavoura. Em verdade, a maioria das mães é constituída por sublime falange de almas nas mais belas experiências de amor e sacrifício, carinho e renúncia, dispostas a sofrer e a morrer pelo bem-estar dos rebentos que a Providência Divina lhes confiou às mãos ternas e devotadas; contudo, há mulheres cujo coração ainda se encontra em plena sombra. Mais fêmeas que mães, jazem obcecadas pela ideia do prazer e da posse e, despreocupando-se dos filhinhos, lhes favorecem a morte. O infanticídio inconsciente e indireto é largamente praticado no mundo. E como o débito reclama resgate, as delongas na solução dos compromissos assumidos acarretam enormes padecimentos nas criaturas que se submetem aos choques biológicos da reencarnação e vêem prejudicadas as suas esperanças de quitação com a Lei."
* Pevides: Sementes

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Reajuste Moral

Entre a Terra e o Céu - Cap. 10

Blandina, espírito que trabalha no Lar da Benção - colônia do plano espiritual que acolhe crianças desencarnadas - cita um exemplo das consequências do mau uso que as pessoas dão à suas habilidades. Muitos casos de graves doenças e de desencarnações na infância são devidas a este reajuste necessário.
"Poderíamos receber de sua experiência alguns exemplos objetivos? – indagou Hilário, curioso.
– Ah! são muitos!... – ponderou a nossa interlocutora, gentil – temos para demonstração mais prática os absurdos da megalomania intelectual. Há pessoas, na Terra, que não se acautelam contra os desvarios da inteligência e fazem da astúcia e da vaidade o clima em que respiram. Insistem na inércia do coração, abominam o sentimento elevado que interpretam por pieguismo e transformam a cabeça num laboratório de perversão dos valores da vida. Não cuidam senão dos próprios interesses, não amam senão a si mesmos. Não percebem, contudo, que se ressecam interiormente e nem imaginam os resultados cruéis da cerebração para o mal. Frequentemente, na luta mundana, avultam na condição de dominadores poderosos, com vastíssimo potencial de influência sobre amigos e adversários, conhecidos e desconhecidos. Mas, esse êxito é ilusório. Caem sob o guante da morte com grande alívio dos contemporâneos e passam a receber-lhes as vibrações de repulsa. Semelhantes criaturas naturalmente são vítimas de si mesmas e sofrem os mais complicados desequilíbrios mentais. Depois de períodos mais ou menos longos de purgação, após a transição da morte, voltam à carne, necessitados de silêncio e solidão para se desvencilharem dos envoltórios inferiores em que se enredaram, assim como a semente precisa do isolamento na cova escura para desintegrar os elementos pesados que a constringem, para novo desabrochar."

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Maternidade 5

Entre a Terra e o Céu - Cap. 30

Clarêncio explica sobre as causas dos enjoos tão frequentes nas mulheres grávidas. A personagem Zulmira apresenta fortes náuseas, impossibilitando a alimentação e provocando o início de um quadro de anemia.
"Ainda assim, depois das despedidas, Hilário perguntou pelo motivo de semelhante fenômeno, que, declarou ele, em toda a sua experiência médica na Terra não conseguira explicar.
– Estamos certos de que a ciência do porvir ajudará a mulher na defesa contra essa espécie de aborrecimento orgânico – asseverou o Ministro, com segurança –, encontrando definições de ordem fisiológica para tais conflitos, mas, no fundo, o desequilíbrio é de essência espiritual. O organismo materno, absorvendo as emanações da entidade reencarnante, funciona como um exaustor de fluidos em desintegração, fluidos esses que nem sempre são aprazíveis ou facilmente suportáveis pela sensibilidade feminina. Daí, a razão dos engulhos* frequentes, de tratamento até agora muito difícil."
* Engulho: náusea, enjoo. 

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Maternidade 4

Entre a Terra e o Céu - Cap. 30

Continuação dos três posts anteriores, em que Clarêncio esclarece sobre a influência que o espírito do feto exerce sobre a mãe. No caso em estudo, a personagem Zulmira está grávida e Júlio é o espírito que se desenvolve em seu ventre. Júlio apresenta em seu perispírito grave enfermidade na região da garganta, em função de suicídio cometido em outra encarnação (ingeriu veneno). Durante a gravidez, Zulmira foi acometida de forte amigdalite em decorrência da influência de Júlio sobre ela.
"– Temos, contudo, os casos – ponderei, curioso – em que na ribalta do mundo vemos filhas que foram evidentemente fortes desafetos das mães em passado remoto ou próximo, tal a animosidade que lhes caracteriza as relações. Reparamos que, em tais ocorrências, as filhas são muito mais afins com os pais, vivendo psiquicamente em harmoniosa associação com eles e distanciadas espiritualmente das mãezinhas que, por vezes, tudo fazem debalde para quebrar as barreiras de separação. Em ligações dessa natureza, surgirão obstáculos à reencarnação?
Clarêncio fitou-me de maneira significativa e respondeu:
– De modo algum. A esposa, por devotamento ao companheiro, cede facilmente à necessidade da alma que volta ao reduto doméstico para fins regeneradores e, em se tratando de alguém com intensa afinidade junto ao chefe do lar, vê-se o marido docemente impulsionado a oferecer maior coeficiente afetivo à companheira, de vez que se sente envolvido por forças duplas de atração. Sob dobrada carga de simpatia, dá muito mais de si mesmo em atenção e carinho, facilitando a tarefa maternal da mulher."

terça-feira, 12 de maio de 2015

Maternidade 3

Entre a Terra e o Céu - Cap. 30

Continuação dos dois posts anteriores, em que Clarêncio esclarece sobre a influência que o espírito do feto exerce sobre a mãe. No caso em estudo, a personagem Zulmira está grávida e Júlio é o espírito que se desenvolve em seu ventre. Júlio apresenta em seu perispírito grave enfermidade na região da garganta, em função de suicídio cometido em outra encarnação (ingeriu veneno). Durante a gravidez, Zulmira foi acometida de forte amigdalite em decorrência da influência de Júlio sobre ela.
"Meu colega [Hilário], avançando mais longe, talvez tentando converter aquela hora de fraternidade tanto quanto possível em hora de estudo, recordou algumas de suas experiências médicas, acrescentando:
– É comum a verificação de exagerada sensibilidade na mulher que engravida. A transformação do sistema nervoso, nessas circunstâncias, é indiscutível. Muitas vezes, a gestante revela decréscimo de vivacidade mental e, não raro, enuncia propósitos da mais rematada extravagância. Há mulheres que adquirem antipatias súbitas, outras se recolhem a fantasias tão inesperadas quanto injustificáveis. Em muitas ocasiões na Terra, perguntei a mim mesmo se a gravidez, na maioria dos casos, não acarreta temporária loucura...
O orientador sorriu e obtemperou:
– A explicação é muito clara. A gestante é uma criatura hipnotizada a longo prazo. Tem o campo psíquico invadido pelas impressões e vibrações do Espírito que lhe ocupa as possibilidades para o serviço de reincorporação no mundo. Quando o futuro filho não se encontra suficientemente equilibrado diante da Lei, e isso acontece quase sempre, a mente maternal é suscetível de registrar os mais estranhos desequilíbrios, porque, à maneira de um médium, estará transmitindo opiniões e sensações da entidade que a empolga.
– Afligia-me observar – lembrou Hilário, com interesse – a inopinada aversão de muitas gestantes contra os próprios maridos...
– Sim, isso ocorre sempre que um inimigo do pretérito volta à carne, a fim de resgatar débitos contraídos para com aquele que lhe servirá de pai."

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Maternidade 2

Entre a Terra e o Céu - Cap. 30

Continuação do post anterior, em que Clarêncio esclarece sobre a influência que o espírito do feto exerce sobre a mãe. No caso em estudo, a personagem Zulmira está grávida e Júlio é o espírito que se desenvolve em seu ventre. Júlio apresenta em seu perispírito grave enfermidade na região da garganta, em função de suicídio cometido em outra encarnação (ingeriu veneno). Durante a gravidez, Zulmira foi acometida de forte amigdalite em decorrência da influência de Júlio sobre ela.
"– Se Zulmira atua, de maneira decisiva, na formação do novo veículo do menino, o menino atua vigorosamente nela, estabelecendo fenômenos perturbadores em sua constituição de mulher. A permuta de impressões entre ambos é inevitável e os padecimentos que Júlio trazia na garganta foram impressos na mente maternal, que os reproduz no corpo em que se manifesta. A corrente de troca entre mãe e filho não se circunscreve à alimentação de natureza material; estende-se ao intercâmbio constante das sensações diversas. Os pensamentos de Zulmira guardam imensa força sobre Júlio, tanto quanto os de Júlio revelam expressivo poder sobre a nova mãezinha. As mentes de um e de outro como que se justapõem, mantendo-se em permanente comunhão, até que a Natureza complete o serviço que lhe cabe no tempo. De semelhante associação, procedem os chamados “sinais de nascença”. Certos estados íntimos da mulher alcançam, de algum modo, o princípio fetal, marcando-o para a existência inteira. É que o trabalho da maternidade assemelha-se a delicado processo de modelagem, requisitando, por isso, muita cautela e harmonia para que a tarefa seja perfeita."

domingo, 10 de maio de 2015

Maternidade

Entre a Terra e o Céu - Cap. 30

Clarêncio esclarece sobre a influência que o espírito do feto exerce sobre a mãe. No caso em estudo, a personagem Zulmira está grávida e Júlio é o espírito que se desenvolve em seu ventre. Júlio apresenta em seu perispírito grave enfermidade na região da garganta, em função de suicídio cometido em outra encarnação (ingeriu veneno). Durante a gravidez, Zulmira foi acometida de forte amigdalite em decorrência da influência de Júlio sobre ela.
"– A questão é sutil. A mulher grávida, além da prestação de serviço orgânico à entidade que se reencarna, é igualmente constrangida a suportar-lhe o contato espiritual, que sempre constitui um sacrifício quando se trata de alguém com escuros débitos de consciência. A organização feminina, durante a gestação, sofre verdadeira enxertia mental. Os pensamentos do ser que se acolhe ao santuário íntimo envolvem-na totalmente, determinando significativas alterações em seu cosmo biológico. Se o filho é senhor de larga evolução e dono de elogiáveis qualidades morais, consegue auxiliar o campo materno, prodigalizando-lhe sublimadas emoções e convertendo a maternidade, habitualmente dolorosa, em estação de esperanças e alegrias intraduzíveis, mas no processo de Júlio observamos duas almas que se ajustam nas mesmas dívidas e na mesma posição evolutiva. Influenciam-se mutuamente."

sábado, 9 de maio de 2015

Reencarnação

Entre a Terra e o Céu - Cap. XXIX

Clarêncio explica a respeito da redução de tamanho que o perispírito sofre durante o processo da reencarnação.
"– A reencarnação, tanto quanto a desencarnação, é um choque biológico dos mais apreciáveis. Unido à matriz geradora do santuário materno, em busca de nova forma, o perispírito sofre a influência de fortes correntes eletromagnéticas, que lhe impõem a redução automática. Constituído à base de princípios químicos semelhantes, em suas propriedades, ao hidrogênio, a se expressarem através de moléculas significativamente distanciadas umas das outras, quando ligado ao centro genésico feminino experimenta expressiva contração, à maneira do indumento de carne sob carga elétrica de elevado poder. Observa-se, então, a redução volumétrica do veículo sutil pela diminuição dos espaços intermoleculares. Toda matéria que não serve ao trabalho fundamental de refundição da forma é devolvida ao plano etereal, oferecendo-nos o perispírito esse aspecto de desgaste ou de maior fluidez.
– Quer dizer então... – aventurou Hilário, em sua curiosidade construtiva.
– Quero dizer que os princípios organogênicos essenciais do perispírito de Júlio já se encontram reduzidos na intimidade do altar materno e, à maneira de um ímã, vão aglutinando sobre si os recursos de formação do novo vestuário de carne que lhe será o vaso próximo de manifestação."

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Condicionantes da Reencarnação

Entre a Terra e o Céu - Capítulo 27

Clarêncio explica algumas condições observadas durante o planejamento reencarnatório.
"A reencarnação como lei exigia o concurso da amizade para cumprir-se? Os desafetos da vida influíam em nosso futuro? O trabalho reencarnatório não seria uma imposição natural?
Clarêncio ouviu, atencioso, as indagações e respondeu, satisfeito:
– A lei é sempre a lei. Cabe-nos tão somente respeitá-la e cumpri-la. Nossa atitude, porém, pode favorecer-lhe ou contrariar-lhe o curso, em favor ou em prejuízo de nós mesmos. O renascimento na carne funciona em condições idênticas para todos, contudo, à medida que se nos desenvolvem o conhecimento e o amor, conseguimos colaborar em todos os serviços do aperfeiçoamento moral em nossas recapitulações. A alma, como a planta, pode ressurgir em qualquer trato de solo, mas não seria justo relegar sementes selecionadas a terrenos incultos. A reencarnação, por si, tanto quanto ocorre nos reinos inferiores à evolução humana, obedece a princípios embriogênicos automáticos, com bases na sintonia magnética; contudo, em se tratando de criaturas com alguns passos à frente da multidão comum, é possível ajustar providências que favoreçam a execução da tarefa a cumprir. Nesses casos, a plantação de simpatia é fator decisivo na obtenção dos recursos de que necessitamos... Quem cultiva a amizade somente na família consanguínea, dificilmente encontra meios para desempenhar certas missões fora dela. Quanto mais extenso o nosso raio de trabalho e de amor, mais ampla se faz a colaboração alheia em nosso benefício.
– E quando, desprevenidos, deixamos que a antipatia cresça em derredor de nós? – inquiriu Hilário, com interesse.
Toda antipatia conservada é perda de tempo, em muitas ocasiões acrescida de lamentáveis compromissos. O espinheiro da aversão exige longos trabalhos de reajuste. Em várias circunstâncias, para curar as chagas de um desafeto, gastamos muitos anos, perdendo o contato com admiráveis companheiros de nossa jornada espiritual para a Grande Luz."

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Caminhos da Medicina

Entre a Terra e o Céu - Cap. XIII

Clarêncio discorre sobre os caminhos futuros da medicina terrestre.

"– A mente, tanto quanto o corpo físico, pode e deve sofrer intervenções para reequilibrar-se. Mais tarde, a ciência humana evolverá em cirurgia psíquica, tanto quanto hoje vai avançando em técnica operatória, com vistas às necessidades do veículo de matéria carnal. No grande futuro, o médico terrestre desentranhará um labirinto mental, com a mesma facilidade com que atualmente extrai um apêndice condenado.
Hilário arregalou os olhos, espantado, feliz. E exclamou, em voz quase gritante:
– Ah! Freud, como viste a verdade!.., como detinhas a razão!...
O orientador fixou-o, paternalmente e aduziu:
– Freud vislumbrou a verdade, mas toda verdade sem amor é como luz estéril e fria. Não bastará conhecer e interpretar. É indispensável sublimar e servir. O grande cientista observou aspectos de nossa luta espiritual na senda evolutiva e catalogou os problemas da alma, ainda encarcerada nas teias da vida inferior. Assinalou a presença das chagas dolorosas do ser humano, mas não lhes estendeu eficiente bálsamo curativo. Fez muito, mas não o bastante. O médico do porvir, para sanar as desarmonias do espírito, precisará mobilizar o remédio salutar da compreensão e do amor, retirando-o do próprio coração. Sem mão que ajude, a palavra erudita morre no ar."

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Recordações de Desdobramentos da Alma

Entre a Terra e o Céu - Cap. XII

Antonina (um dos personagens que tem sua história de vida mostrada no livro), amparada por Clarêncio, André Luiz e Hilário, em desdobramento durante o sono físico, é levada ao mundo espiritual para visitar seu filho Marcos desencarnado ainda criança. Após a visita, retorna ao corpo físico e pouco se recorda da viagem realizada. Indagado por André Luiz e Hilário, Clarêncio explica o porque das recordações serem fragmentadas.
"Como quem seleciona preciosidades, a consolada mãezinha procurava, ansiosa, nos arquivos da própria mente, todas as palavras que ouvira do filho abençoado, buscando retê-las no escrínio do coração. Por isso, das valiosas observações de Clarêncio, em poucos minutos não lhe restava na alma qualquer reminiscência.
Antonina movimentou-se, fez luz e ouvimo-la pensar, vibrante:
– Oh! meu Deus, que alegria! Pude vê-lo perfeitamente! Quero guardar a recordação deste sonho divino!... Marcos, Marcos, que saudades, meu filho!...
O Ministro abeirou-se dela, acariciou-lhe a cabeça, como se a envolvesse em fluidos calmantes e a simpática senhora restabeleceu a sombra no recinto.
Abraçando a caçula que repousava ao seu lado, novamente dormiu.
– Nossa amiga não poderá guardar positivas recordações – informou Clarêncio com atenção.
– Mas, porquê? – indagou Hilário, admirado.
– Raros Espíritos estão habilitados a viver na Terra, com as visões da vida eterna. A penumbra interior é o clima que lhes é necessário. A exata lembrança para ela redundaria em saudade mortal.
– Como isso é lamentável! – alegou o meu companheiro, penalizado.
O Ministro todavia, explicou paciente:
A
– Cada estágio na vida se caracteriza por finalidades especiais. O mel é saboroso néctar para a criança, mas não deve ser ministrado indiscriminadamente. Reclama dosagem para não vir a ser importuno laxativo. O contato com o reino espiritual, enquanto nos demoramos no envoltório terrestre, não pode ser dilatado em toda a extensão, para que nossa alma não afrouxe o interesse de lutar dignamente até o fim do corpo. Antonina lembrarse-á de nossa excursão mas de modo vago, como quem traz no campo vivo da alma um belo quadro de esbatidos contornos. Recordar-se-á porém, do filhinho mais vivamente, o bastante para sentir-se reconfortada e convicta de que Marcos a espera na Vida Maior. Semelhante certeza ser-lhe-á doce alimento ao coração."

terça-feira, 5 de maio de 2015

Origem das Doenças

Entre a Terra e o Céu - Capítulo 21

Clarêncio esclarece André Luiz a respeito da origem das doenças.
"Recordei os inúmeros casos de moléstias obscuras de meu trato pessoal e aduzi:
– Decerto a Medicina escreveria gloriosos capítulos na Terra, sondando com mais segurança os problemas e as angústias da alma...
– Gravá-los-á mais tarde – confirmou Clarêncio, seguro de si. Um dia, o homem ensinará ao homem, consoante as instruções do Divino Médico, que a cura de todos os males reside nele próprio. A percentagem quase total das enfermidades humanas guarda origem no psiquismo.
Sorridente, acrescentou:
– Orgulho, vaidade, tirania, egoísmo, preguiça e crueldade são vícios da mente, gerando perturbações e doenças em seus instrumentos de expressão.
No objetivo de aprender, observei:
– É por isso que temos os vales purgatoriais, depois do túmulo... a morte não é redenção...
– Nunca foi – esclareceu o Ministro, bondoso. – O pássaro doente não se retira da condição de enfermo, tão só porque se lhe arrebente a gaiola. O inferno é uma criação de almas desequilibradas que se ajuntam, assim como o charco é uma coleção de núcleos lodacentos, que se congregam uns aos outros. Quando, de consciência inclinada para o bem ou para o mal, perpetramos esse ou aquele delito no mundo, realmente podemos ferir ou prejudicar a alguém, mas, antes de tudo, ferimos e prejudicamos a nós mesmos. Se eliminamos a existência do próximo, nossa vítima receberá dos outros tanta simpatia que, em breve, se restabelecerá, nas leis de equilíbrio que nos governam, vindo, muita vez, em nosso auxílio, muito antes que possamos recompor os fios dilacerados de nossa consciência. Quando ofendemos a essa ou àquela criatura, lesamos primeiramente a nossa própria alma, de vez que rebaixamos a nossa dignidade de espíritos eternos, retardando em nós sagradas oportunidades de crescimento.
– Sim – concordei –, tenho visto aqui aflitivas paisagens de provação que me constrangem a meditar...
– A enfermidade, como desarmonia espiritual – atalhou o instrutor –, sobrevive no perispírito. As moléstias conhecidas no mundo e outras que ainda escapam ao diagnóstico humano, por muito tempo persistirão nas esferas torturadas da alma, conduzindo-nos ao reajuste. A dor é o grande e abençoado remédio. Reeduca-nos a atividade mental, reestruturando as peças de nossa instrumentação e polindo os fulcros anímicos de que se vale a nossa inteligência para desenvolver-se na jornada para a vida  eterna. Depois do poder de Deus, é a única força capaz de alterar o rumo de nossos pensamentos, compelindo-nos a indispensáveis modificações, com vistas ao Plano Divino, a nosso respeito, e de cuja execução não poderemos fugir sem graves prejuízos para nós mesmos."

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Perispírito 3

Entre a Terra e o Céu - Cap. XXI

Continuação dos dois posts anteriores, em que André Luiz e Hilário questionam o Ministro Clarêncio a respeito do perispírito.

"Hilário, conduzindo mais longe as próprias divagações, perguntou:
– Imaginemos, contudo, um homem puramente selvagem, a situar-se em plena ignorância dos Desígnios Superiores, que se confia a delitos indiscriminados... Terá nos tecidos sutis da alma as lesões cabíveis a um europeu supercivilizado, que se entrega à indústria do crime? 
Clarêncio sorriu, compreensivo, e acentuou:
– Sigamos devagar. Comentávamos, ainda há pouco, o problema da evolução. Assim como o aperfeiçoado veículo do homem nasceu das formas primárias da Natureza, o corpo espiritual foi iniciado também nos princípios rudimentares da inteligência. É necessário não confundir a semente com a árvore ou a criança com o adulto, embora surjam na mesma paisagem de vida. O instrumento perispirítico do selvagem deve ser classificado como proto forma humana, extremamente condensado pela sua integração com a matéria mais densa. Está para o organismo aprimorado dos Espíritos algo enobrecidos, como um macaco antropomorfo está para o homem bem-posto das cidades modernas. Em criaturas dessa espécie, a vida moral está começando a aparecer e o perispírito nelas ainda se encontra enormemente pastoso. Por esse motivo, permanecerão muito tempo na escola da experiência, como o bloco de pedra rude sob marteladas, antes de oferecer de si mesmo a obra-prima... Despenderão séculos e séculos para se rarefazerem, usando múltiplas formas, de modo a conquistarem as qualidades superiores que, em lhes sutilizando a organização, lhes conferirão novas possibilidades de crescimento consciencial. O instinto e a inteligência pouco a pouco se transformam em conhecimento e responsabilidade e semelhante renovação outorga ao ser mais avançados equipamentos de manifestação... O prodigioso corpo do homem na Crosta Terrestre foi erigido pacientemente, no curso dos séculos, e o delicado veículo do Espírito, nos planos mais elevados, vem sendo construído, célula a célula, na esteira dos milênios incessantes...
E, com um olhar significativo, Clarêncio concluiu:
– ... até que nos transfiramos de residência, aptos a deixar, em definitivo, o caminho das formas, colocando-nos na direção das esferas do Espírito Puro, onde nos aguardam os inconcebíveis, os inimagináveis recursos da suprema sublimação."

domingo, 3 de maio de 2015

Perispírito 2

Entre a Terra e o Céu - Cap. XXI

Continuando o post anterior, André Luiz e Hilário questionam o Ministro Clarêncio a respeito do perispírito.
"E, encorajado pela atitude do companheiro, desfechei a primeira questão, considerando:
– Inegavelmente, será difícil alcançar o grande equilíbrio que nos outorgará o trânsito definitivo para as eminências do Espírito Puro.
– Ah! sim – concordou o Ministro, com grave entono –, para que tivéssemos na Crosta Planetária um vaso tão aprimorado e tão belo, quanto o corpo humano, a Sabedoria Divina despendeu milênios de séculos, usando os multiformes recursos da Natureza, no campo imensurável das formas... Para que venhamos a possuir o sublime instrumento da mente em planos mais elevados, não podemos esquecer que o Supremo Pai se vale do tempo infinito para aperfeiçoar e sublimar a beleza e a precisão do corpo espiritual que nos conferirá os valores imprescindíveis à nossa adaptação à Vida Superior.
– Compete-nos, então – observou Hilário, atencioso –, atribuir importante papel às enfermidades na esfera humana. Quase todas estarão no mundo, desempenhando expressivo papel na regeneração das almas.
– Exatamente.
– Cada “centro de força”* – ponderei – exigirá absoluta harmonia, perante as Leis Divinas que nos regem, a fim de que possamos ascender no rumo do Perfeito Equilíbrio...
– Sim – confirmou Clarêncio –, nossos deslizes de ordem moral estabelecem a condensação de fluidos inferiores de natureza gravitante, no campo eletromagnético de nossa organização, compelindo-nos a natural cativeiro em derredor das vidas começantes às quais nos imantamos."
* Centro de força: chacra

sábado, 2 de maio de 2015

Perispírito

Entre a Terra e o Céu - Cap. XXI

André Luiz faz considerações a respeito do perispírito.
"Assim como o homem comum mal conhece o veículo em que se movimenta, ignorando a maior parte dos processos vitais de que se beneficia e usando o corpo de carne à maneira de um inquilino estranho à casa em que reside, também nós, os desencarnados, somos compelidos a meticulosas meditações para analisar a vestimenta de que nos servimos, de modo a conhecer-lhe a intimidade.
Efetivamente, em novas condições na vida espiritual, passamos a apreciar, com mais segurança, o corpo abandonado à Terra, penetrando os segredos de sua formação e desenvolvimento, sustentação e desintegração, mas somos desafiados pelos enigmas do novo instrumento que passamos a utilizar. Lidamos, na Vida Maior, com o carro sutil da mente, pelo menos na esfera em que nos situamos, acentuando, pouco a pouco, os nossos conhecimentos, quanto às peculiaridades que lhe dizem respeito."

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Importância da Utilização da Palavra 4

Entre a Terra e o Céu - Cap. XXII

Continuação dos três últimos posts, em que Clarêncio, André Luiz e Hilário visitam Irmã Clara (espírito com serviços prestados à educação de desencarnados de variadas condições) e assistem à palestra ministrada por ela, cujo tema é a importância da utilização da palavra.

"Um amigo que acompanhava os ensinamentos, com interesse invulgar, perguntou, respeitoso:
– Irmã Clara, como devemos interpretar as perturbações da voz, como, por exemplo, a gaguez e a diplofonia*?
– Sem dúvida – informou a instrutora, solícita –, os órgãos vocais experimentam igualmente lutas e provações quando reclamam reajuste. Por intermédio da voz, praticamos vários delitos de tirania mental e, através dela, nos cabe reparar os débitos contraídos. As enfermidades dessa ordem compelem-nos ao trabalho de recuperação no silêncio, de vez que, sofrendo a alheia observação, aprendemos pouco a pouco a governar os próprios impulsos, afeiçoando-os ao bem."
* Diplofonia: Perturbação da voz, caracterizada pela formação simultânea de dois sons na laringe.