domingo, 26 de abril de 2015

Recordação de Existências Anteriores 2

Entre a Terra e o Céu - Cap. VIII

Continuidade do post anterior, em que Clarêncio esclarece porque não recordamos espontaneamente de nossas existências anteriores.
"– Mas se pudéssemos reconhecer no mundo os nossos antigos afetos, se pudéssemos rever os semblantes amigos de outras eras, identificando-os...
Retomar o contacto com os melhores, seria recuperar igualmente os piores – atalhou Clarêncio, bondoso – e, indiscutivelmente, não possuímos até agora o amor equilibrado e puro, que se consagra aos desígnios superiores, sem paixão. Ainda não sabemos querer sem desprezar, amparar sem desservir. Nossa afetividade, por enquanto, padece deploráveis inclinações. Sem o esquecimento transitório, não saberíamos receber no coração o adversário de ontem para regenerar-nos, regenerando-o. A Lei é sábia. De qualquer modo, porém, não olvidemos que nosso espírito assinala todos os passos da jornada que lhe é própria, arquivando em si mesmo todos os lances da vida, para formar com eles o mapa do destino, de acordo com os princípios de causa e efeito que nos governam a estrada, mas somente mais tarde, quando o amor e a sabedoria sublimarem a química dos nossos pensamentos, é que conquistaremos a soberana serenidade, capaz de abranger o pretérito em sua feição total...
O Ministro fez ligeiro intervalo, sorriu paternalmente para nós e rematou:
– A Lei, contudo, é invariavelmente a Lei. Viveremos, em qualquer parte, com os resultados de nossas ações, assim como a árvore, em qualquer trato do solo, produzirá conforme a espécie a que se subordina."

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